Contra-Corrente: O elo mais forte
“There’s only one thing that I hate
That it’s a bunch of crap:
I hate rap!
Rap is crap...”
That it’s a bunch of crap:
I hate rap!
Rap is crap...”
Eram estas as palavras cantadas pelo falecido Mr. Perfect, Curt Hennig, na WCW, aquando de uma infame rivalidade que o opunha, enquanto líder de um grupo de lutadores fãs de música “country”, a um grupo de fãs de rap, do qual faziam parte Rey Mysterio e Konnan. Ao contrário de muitos, vibrei com esse “angle”, porque ele dava voz a uma opinião que também é a minha, mas que fica perdida por entre o “deixa andar” do politicamente correcto. Chamem-lhe rap, hip-hop, ou seja o que for; independentemente do nome, eu odeio esse estilo que nem sequer classifico de música. “Rap is crap”.
Diz-se que a música é composta por três vectores: ritmo, melodia e harmonia. Nisso a que chamarei rap, de facto encontra-se ritmo, se bem que é um ritmo ultra repetitivo e monótono. Mas é preciso esticar muito a imaginação (e a boa vontade) para lá se encontrar melodia e harmonia. Há duas respostas a este meu argumento. A primeira, que é dada por muitos indivíduos que fazem do rap o seu sustento, é que quem critica simplesmente não entende o que é o rap. Isto é de tal forma estúpido que nem merece resposta. Se alguém está tão imerso no seu mundinho que acha que só quem é burro pode discordar dos seus gostos, isso é uma espécie de neo-solipsismo. Cura-se com um psiquiatra.
A segunda resposta é mais séria. É aquela que diz que sim, o rap pode não ser música no sentido convencional/clássico, mas suprime essa lacuna com o conteúdo dos assuntos que aborda, com o que representa socialmente. O problema é que já passou muito desde o tempo dos Public Enemy e dos grupos que se preocupavam com problemas como a exclusão social. Hoje, vive-se o tempo do “gangsta rap” (precavendo-me de eventuais respostas a isto, eu sei que há muitas bandas a fazerem coisas muito diferentes; o meu ponto é que esses fenómenos marginais não são representativos). Todos conhecem, todos sabem que tem o patrocínio da MTV, e como nos dá belas letras (ironia...) onde se faz a apologia, entre outros, do crime organizado, da prostituição, do homicídio, e da misoginia. Nos EUA, estes indivíduos matam-se uns aos outros a um ritmo alucinante. É esse o seu exemplo, é essa a inspiração que trazem a quem os ouve. Problemas sociais? Pois hoje são os próprios indivíduos que fazem rap que os criam, ou pelo menos acentuam. Entre nós, em Portugal, chegámos ao cúmulo do ridículo de termos um indivíduo que não sabe cantar e não toca nenhum instrumento a criticar pessoas que sabem cantar e sabem tocar por se expressarem em inglês. E ainda é levado a sério.
Por tudo isto, nunca odiei nenhuma personagem de wrestling mais do que quando um certo John Cena se estreou, usando camisolas de basquetebol e calções de ganga largos. Usava termos supostamente “hip hop”, expressava-se em rimas banais e fáceis (apanágio dessa alegada cultura do hip hop), e era uma nódoa no ringue. No entanto, à medida que o tempo passou, algo foi mudando. Comecei a adorar odiá-lo, e à medida que as suas tiradas se iam tornando mais cómicas ele ia-me fazendo sorrir e rir. Cena ia subindo a escada até ao topo da WWE, não à custa do seu suor no ringue, mas do seu trabalho de microfone.
O “face turn” era inevitável, pois o mesmo efeito que Cena teve em mim, também o teve na generalidade do público. A partir daí, Cena disparou até campeão da WWE, e a ser mudado de programa, do Smackdown para o Raw. Foi então que as críticas começaram a chover.

John Cena é o exemplo perfeito para aquilo que tantas vezes defendo. É uma característica humana criar heróis para depois os destruir. Quando algo é novo e parece inovador, esse algo é elogiado; quando se torna conhecido, independentemente dos progressos que possa ter feito, passa a ser atacado. É um facto indesmentível que John Cena foi perdendo a sua personagem de “rapper” mauzão, e lentamente transformando-se num lutador genérico sem “gimmick”, que agrada às mulheres e às crianças mas é odiado pelos homens. Isto porque Cena hoje encarna o papel de si mesmo, mas um “si mesmo” que já não insulta os adversários, que é sempre inspirador e positivo, para não desagradar ao seu público. Cena é real, ainda que um real truncado para encaixar no molde de super herói da empresa – essa é a premissa que o manteve no topo da WWE durante três anos.
No entanto, tipicamente Cena é criticado por outras razões: por os seus combates serem aborrecidos e repetitivos, por fazer sempre as mesmas manobras, por essas manobras não terem um aspecto nada inovador, perigoso nem violento, por simplesmente ser um mau lutador. Claro que conversas de “Cena é bom lutador/Cena é mau lutador” são absurdas, pois desenrolam-se no campo de uma opinião pessoal demasiado subjectiva para que se possa aprender algo com ela. O que é afinal um bom lutador? Há casos objectivos de bons lutadores (Bret Hart, Kurt Angle, Curt Hennig, CHRIS BENOIT - será proibido dizer como ele era bom no ringue?), e casos objectivos de maus lutadores (aqueles que não duraram na indústria), mas onde se dá a separação? Poderemos encontrar uma definição?
Creio que não. Existe sempre uma zona nebulosa, onde todas as opiniões são permitidas. Se a WWE fosse apoiar este ou aquele lutador com base em considerações e opiniões sobre a qualidade intrínseca de cada um, ainda para mais vindo essa opinião de pessoas pseudo-inteligentes e tão voláteis como o são a generalidade dos “computer heads” da IWC, então provavelmente já não haveria indústria. Têm de existir critérios mais objectivos. E, na verdade, bom ou mau lutador, Cena teve “feuds” de grandíssima qualidade. A maior de todas, com Edge, mas seguida de perto pela rivalidade com Shawn Michaels (alguém ainda se lembra do seu combate de 60 minutos?). Até com Umaga e mesmo The Great Khali, Cena conseguiu arrancar “main events” de bom nível. Como se define esse nível? Pelas compras de “pay-per-views”. No fundo, é tão simples quanto isso. E até hoje Cena ainda não parou de melhorar, de progredir, e de aprender.
E é isso que deixa um nó na garganta a todos os que adoram odiar Cena. Como é que alguém consegue ser tão mau no ringue, tão desinteressante, não ter “gimmick”, estar de cinto posto há mais de dois anos quase sem interrupções, e mesmo assim colar as pessoas à televisão? (Alguém assim não se safava nas indys de certeza...) Mas, curiosamente, os críticos de Cena calaram-se quando, no primeiro Raw após Cena se lesionar, as audiências terem caído em relação à semana anterior em cerca de 1 ponto, ficando-se em números que já não se viam desde 1997 quando a WCW dominava, e a WWE estava à beira da falência. Quer queiram quer não, Cena faz falta.
Pessoalmente, não suportava Cena por ele personalizar o rap. Hoje em dia, não gosto dele como lutador, mas não o considero insuportável. Entendo que ele é essencial à WWE, e enriquece muito a companhia. John Cena tem vindo a ser o elo mais forte da empresa, porque é um trabalhador modelo: esforça-se, é extremamente profissional, não reage a insultos nem a provocações do público que daria tudo para o ver cair, e que rejubilou quando se lesionou, nunca esteve envolvido com esteróides nem outras substâncias proibidas, não me recordo que tenha lesionado alguma vez outra pessoa, é dos melhores no microfone, é carismático, e apesar de tudo é capaz de nos oferecer boas rivalidades. Cena merece, no mínimo, o nosso respeito.
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2 Comentários:
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