Contra-corrente: O véu da ignorância
É hoje comum na nossa sociedade um sentimento de inutilidade da filosofia. Penso que a culpa disto, embora não o consiga demonstrar por "a+b", é de um sistema de ensino que não promove o pensamento racional, sustentado em argumentos válidos e em raciocínios que ginasticam a mente. Para cúmulo, nunca se mostra com casos concretos em que é que a filosofia nos ajuda nas discussões do dia-a-dia, e em que é uma ferramenta útil, diria mesmo essencial, para o pensamento. Não sou filósofo nem tenho formação teórica em filosofia, mas ainda assim reconheço-lhe valor, e por isso tento sempre utilizar os seus ensinamentos em todas as minhas participações. A discussão que, muito por minha culpa, tem sido alimentada neste blog acerca de federações independentes (indys) parece-me um bom exemplo disso.
John Rawls foi um filósofo norte-americano já desaparecido que merecia melhor destino do que ser empurrado para o caixote dos seguidores de Kant. Rawls teve como sua obra-prima o livro "Theory of Justice", que se centra fundamentalmente no tópico da justiça distributiva. Como em tudo, não se pode extrapolar sem erro as suas conclusões para outras áreas do conhecimento. Porém, metodologicamente Rawls concebeu um esquema que é extremamente útil para o pensamento em geral, e que se designa normalmente por "véu da ignorância".
E o conceito global é fazer um exercício de imaginação. Simplificadamente, imaginemo-nos tal como somos, mas desconhecendo a nossa posição na sociedade, as nossas capacidades naturais, e tudo o mais que poderia toldar a nossa capacidade de realizar um juízo perfeitamente racional e descomprometido. Nessa situação, estamos sob o véu da ignorância. É para além deste véu que devemos ver e analisar o Mundo à partida, ainda antes de colocarmos as nossas opiniões e interesses. Qual a vantagem? É essencialmente que deixamos de tomar uma ou outra opinião por preconceitos inerentes à nossa própria condição, aos nossos tiques ou às nossas manias. É o equivalente intelectual aos "juízes de fora" introduzidos na Idade Média, quando se considerou que a pessoa que presidia aos julgamentos seria mais justa se não conhecesse as partes envolvidas nem tivesse interesses na terra.
Em que é que isto se relaciona com o caso das indys? Porque não é intelectualmente honesto debitar preconceitos em substituição de argumentos fundamentais, nem achar que apontando casos concretos do combate "x" ou da feud "y" se consegue divulgar da melhor maneira os nossos gostos. A maneira como se constrói uma argumentação, de acordo com a metodologia atrás expressa, deverá ser:
(1) definir quais as características que um bom espectáculo de Wrestling deve ter;
(2) definir quais as características que um bom lutador deve ter.
Esta é a parte em que, descomprometidamente, e de acordo com a teoria de Rawls, há uma convergência natural entre opiniões. É a parte tão "objectiva" quanto possível. Só depois se pode passar às fases seguintes, que são:
(3) verificar quais as federações que cumprem os critérios (1) e (2);
(4) explicar os resultados do ponto (3);
(5) apenas no fim, dar exemplos.
Foi isto que tentei fazer há já algum tempo. Resumindo, tentei explicar que um espectáculo pré-determinado necessita de um certo nível de envolvência, de suspension of disbelief por parte do público, que é altamente facilitado pelo profissionalismo dos intérpretes e também dos meios através dos quais o show é feito, sendo portanto o drama da narrativa essencial. Os intérpretes devem, então, ser acima de tudo convincentes, e tal como um bom actor num filme, levar-nos a acreditar que tanto as histórias quanto a acção no ringue são legítimas.
Seguidamente, argumentei que apenas na WWE, presentemente, se encontra grande parte destas características fundamentais. À luz dessa conclusão, dei também a minha interpretação para o facto de, no entanto, existir um grupo específico, a comunidade de wrestling da net, que adora "bater" na WWE e nos seus campeões, e simultaneamente defender os shows das indys, enquanto fãs ocasionais de wrestling, ou então os que seguem há mais tempo, aborrecem-se tremendamente com esses espectáculos. E, por último, tentei desmontar os exemplos positivos que me foram dados para defender as indys, e dar outros de dois tipos: (1) grandes combates na WWE, e (2) péssimos combates nas indys (tentando mostrar que são a maioria, e mesmo os bons têm graves deficiências).
O problema de se discutir com exemplos e passando vídeos sem fim, no fundo, é aquele que os leitores mais atentos identificam na última frase, ou seja, é só uma mera questão de gosto. Por cada combate bom das indys que se mostre, pode mostrar-se um (ouso mesmo dizer dez ou vinte...) mau(s). E haverá sempre alguém que ache o contrário... É por isso que fazer uma lista de supostamente boas feuds é desonesto do ponto de vista da discussão, porque é flagrantemente subjectivo e porque não demonstra coisa nenhuma. A melhor teoria é aquela que explica os casos específicos, não aquela que se adapta a si.
O facto de existirem bons combates nas indys é óbvio e está para além do objectivo de qualquer pessoa que denuncie estas federações em geral como espectáculos sobrevalorizados pelas vias da internet. No fundo, é isso que está em questão desde o início. O que está aqui em choque é uma diferença radical de formas de ver o wrestling, que é interessante explicar.
Os fãs de indys vão oscilando nas justificações que dão para o seu gosto. Alguns alegam credibilidade e legitimidade, outros dizem que é o humor, depois já é a criatividade das histórias, depois já não há histórias nem devia haver, e tanto quando pude ler agora em último já há também uma questão de ego dos espectadores (este salto epistemológico entre spotfests e auto-estima ultrapassa-me... será problema meu?). O que eu e o que creio ser uma maioria silenciosa de fãs de wrestling queremos é suspender a nossa descrença e simplesmente observar um belo espectáculo que nos prenda ao ecrã através do atleticismo e do drama. Devemos criar construções intelectuais para explicar e, como aqui, discutir o espectáculo, mas não para o ver. O wrestling, segundo acredito, é para ser visto com os olhos de uma criança. E não é à toa que as crianças não querem saber dos falhados das OVW que são deuses nas indys, nem dos rumores e spoilers e reports e tretas do costume nos sites americanos da especialidade, mas adoram o John Cena...
John Rawls foi um filósofo norte-americano já desaparecido que merecia melhor destino do que ser empurrado para o caixote dos seguidores de Kant. Rawls teve como sua obra-prima o livro "Theory of Justice", que se centra fundamentalmente no tópico da justiça distributiva. Como em tudo, não se pode extrapolar sem erro as suas conclusões para outras áreas do conhecimento. Porém, metodologicamente Rawls concebeu um esquema que é extremamente útil para o pensamento em geral, e que se designa normalmente por "véu da ignorância".
E o conceito global é fazer um exercício de imaginação. Simplificadamente, imaginemo-nos tal como somos, mas desconhecendo a nossa posição na sociedade, as nossas capacidades naturais, e tudo o mais que poderia toldar a nossa capacidade de realizar um juízo perfeitamente racional e descomprometido. Nessa situação, estamos sob o véu da ignorância. É para além deste véu que devemos ver e analisar o Mundo à partida, ainda antes de colocarmos as nossas opiniões e interesses. Qual a vantagem? É essencialmente que deixamos de tomar uma ou outra opinião por preconceitos inerentes à nossa própria condição, aos nossos tiques ou às nossas manias. É o equivalente intelectual aos "juízes de fora" introduzidos na Idade Média, quando se considerou que a pessoa que presidia aos julgamentos seria mais justa se não conhecesse as partes envolvidas nem tivesse interesses na terra.
Em que é que isto se relaciona com o caso das indys? Porque não é intelectualmente honesto debitar preconceitos em substituição de argumentos fundamentais, nem achar que apontando casos concretos do combate "x" ou da feud "y" se consegue divulgar da melhor maneira os nossos gostos. A maneira como se constrói uma argumentação, de acordo com a metodologia atrás expressa, deverá ser:
(1) definir quais as características que um bom espectáculo de Wrestling deve ter;
(2) definir quais as características que um bom lutador deve ter.
Esta é a parte em que, descomprometidamente, e de acordo com a teoria de Rawls, há uma convergência natural entre opiniões. É a parte tão "objectiva" quanto possível. Só depois se pode passar às fases seguintes, que são:
(3) verificar quais as federações que cumprem os critérios (1) e (2);
(4) explicar os resultados do ponto (3);
(5) apenas no fim, dar exemplos.
Foi isto que tentei fazer há já algum tempo. Resumindo, tentei explicar que um espectáculo pré-determinado necessita de um certo nível de envolvência, de suspension of disbelief por parte do público, que é altamente facilitado pelo profissionalismo dos intérpretes e também dos meios através dos quais o show é feito, sendo portanto o drama da narrativa essencial. Os intérpretes devem, então, ser acima de tudo convincentes, e tal como um bom actor num filme, levar-nos a acreditar que tanto as histórias quanto a acção no ringue são legítimas.
Seguidamente, argumentei que apenas na WWE, presentemente, se encontra grande parte destas características fundamentais. À luz dessa conclusão, dei também a minha interpretação para o facto de, no entanto, existir um grupo específico, a comunidade de wrestling da net, que adora "bater" na WWE e nos seus campeões, e simultaneamente defender os shows das indys, enquanto fãs ocasionais de wrestling, ou então os que seguem há mais tempo, aborrecem-se tremendamente com esses espectáculos. E, por último, tentei desmontar os exemplos positivos que me foram dados para defender as indys, e dar outros de dois tipos: (1) grandes combates na WWE, e (2) péssimos combates nas indys (tentando mostrar que são a maioria, e mesmo os bons têm graves deficiências).
O problema de se discutir com exemplos e passando vídeos sem fim, no fundo, é aquele que os leitores mais atentos identificam na última frase, ou seja, é só uma mera questão de gosto. Por cada combate bom das indys que se mostre, pode mostrar-se um (ouso mesmo dizer dez ou vinte...) mau(s). E haverá sempre alguém que ache o contrário... É por isso que fazer uma lista de supostamente boas feuds é desonesto do ponto de vista da discussão, porque é flagrantemente subjectivo e porque não demonstra coisa nenhuma. A melhor teoria é aquela que explica os casos específicos, não aquela que se adapta a si.
O facto de existirem bons combates nas indys é óbvio e está para além do objectivo de qualquer pessoa que denuncie estas federações em geral como espectáculos sobrevalorizados pelas vias da internet. No fundo, é isso que está em questão desde o início. O que está aqui em choque é uma diferença radical de formas de ver o wrestling, que é interessante explicar.
Os fãs de indys vão oscilando nas justificações que dão para o seu gosto. Alguns alegam credibilidade e legitimidade, outros dizem que é o humor, depois já é a criatividade das histórias, depois já não há histórias nem devia haver, e tanto quando pude ler agora em último já há também uma questão de ego dos espectadores (este salto epistemológico entre spotfests e auto-estima ultrapassa-me... será problema meu?). O que eu e o que creio ser uma maioria silenciosa de fãs de wrestling queremos é suspender a nossa descrença e simplesmente observar um belo espectáculo que nos prenda ao ecrã através do atleticismo e do drama. Devemos criar construções intelectuais para explicar e, como aqui, discutir o espectáculo, mas não para o ver. O wrestling, segundo acredito, é para ser visto com os olhos de uma criança. E não é à toa que as crianças não querem saber dos falhados das OVW que são deuses nas indys, nem dos rumores e spoilers e reports e tretas do costume nos sites americanos da especialidade, mas adoram o John Cena...
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4 Comentários:
desconhecia a existência do senhor John Rawls, talvez passe os olhos pela sua obra um dia.
O problema do ensino da Filosofia tem muito a ver com os professores, penso que talvez o facto de ser um curso intlectualmente puxado e com linguagem bastante especifica faz com que os seus docentes tenham dificuldades em expressar-se a jovens que estão a 0.
Da minha experiência com a Filosofia e de outras outras pessoas com quem falei é que é hit or miss, ou se tem um bom professor, as coisas entendem-se e são apaixonantes, ou então não se sabe bem do que se está a falar e torna-se aborrecido.
Por sorte, tive o prazer de ter como professor o senhor Pedro Baptista, antigo deputado e escritor de romances como "O Cavaleiro Azul", antigo cronista de jornais desportivos e antigo comentador residente do programa Jogo Falado.
Acerca do modelo de argumentação apresentando, penso que peca por establecer permissas universais de avaliação de inicio de depois deduzir a partir delas o que é melhor ou pior.
Eu não sei todas as coisas que são boas no wrestling, amanhã posso ver um combate com algo que nunca tinha visto e gostar, mesmo que nas minhas permissas iniciais não estivesse considerada.
Quanto à legitimidade, no wrestling cria-se um mundo à parte. Eu posso ver uma peça de teatro que seja grosseiramente não credivel e mesmo assim interessar-me pelas personagens, comer aquele novo mundo.
O mundo da WWE não é credivel em nenhuma forma. GMs que só bookam bons contra maus, maus que só conseguem ganhar com batota e que fazem de tudo para serem odiados, eu por exemplo sempre achei mais piada ao Matt Sydal que quando ganhou os ROH tag team titles ficou com tiques de vedeta e se tornou mais arrogante, mas que ainda assim cumprimentava o público e tentava que o público o aplaudisse, porque é isso que as estrelas arrogantes fazem, gostam de ser ovacionadas.
Depois colocas em discussão os argumentos de fãs de indys.
O facto de haver quem considere que o Briscoes vs MCMG foi o melhor combate do ano não faz com que outros fãs não achem que na verdade não foi grande coisa, não faz com que não haja no forum da ROH threads sobre como o combate foi overrated com comentários como "High-speed double-teaming, Ricky Morton hot tags (on the heel side!), and rapid-fire high spots start to get tedious rather than exciting when done non-stop for 35 minutes. At least, that was my take on the match.", não faz com que fora da ROH, os Briscoes não sejam bookados em nenhuma promoção relevante porque o seu sucesso na ROH tem a ver essencialmente com a forma como foram bookados desde o seu regresso, não faz com que o Ian Rotten não tenha criticado o wrestling dos Briscoes num show da IWA recente por oposição ao dos Iron Saints, que, e eu concordo com ele, são muito melhor tag team que os Briscoes, provavelmente a melhor de todo o circuito indy.
Justificações para ver indys... as indys não são um universo uniforme, há quem ache que promoções como CHIKARA ou PWG são uma vergonha para o wrestling, que andam a fazer pouco do wrestling com a sua comédia, há quem simplesmente se divirta. Há muito lixo nas indys.
Sobre as crianças não quererem saber da malta das indys... as crianças que vão aos shows, querem, e não são assim tão poucas, por algum motivo a gimmick do Chuck Taylor é assustar crianças. E depois houve uma vez aquela coisa gira do Arik Cannon ter ido buscar uma criança que o Chuck tinha assustado e ter-lhe dito para se vingar com uma chapada no peito do Chuck Taylor, o puto deu-lhe uma chapada e o Chuck vendeu, foi fun. podem ver aqui http://www.youtube.com/watch?v=F0bTLkRxskw
Também, quem vir um show de FIP na Flórida, vê montes de crianças no público, vê-las a booarem o Danielson e o Aries como se não houvesse amanhã, o Punk foi booado no seu ultimo combate na FIP, se calhar é pelo público ser smark.
Noutro exemplo bastante ilustrativo, TPI 2006, Trik Davis vs Chris Hero. Hero está no seu modo heel mais odiável, Trik Davis vinha a feudar com ele no que foi uma das melhores feuds de 2006, uma porção do público é incrivelmente hostil para o Trik, porque achavam o Hero melhor wrestler, não achavam justo que ele estivesse a ter tantas oportunidades, whatever, não percebo porque é que odeiam o Trik.
O certo é que há Trik Davis haters, mas que também havia quem estivesse a comer a storyline, incluindo eu, que puxavam como se não houvesse amanhã por ele. Sobre os primeiros fãs, Ben Jordan comentava que "some of our fans have mental problems and are cheering for Chris Hero" ao que Joey Eastman acrescentava "Everyone who cheers for Chris Hero desearves to die".
O problema da tua resposta ao meu ultimo post, é que chegas a uma conclusão parecida com "todos os fãs de indys são são pessoas tristes que sentem necessidade de serem alternativos, as indys não prestam, não há lá nada que possa ter algum valor artistico".
Não digo que a procura de uma experiência social alternativa não esteja presente em alguns indy fãs, nomeada e especialmente, nos fãs anormais de ROH que vão para os shows cantar "this is awesome" e que reagem estupidamente a spots e que sobrevalorizam por completo aquilo que estão a ver. São um dos motivos pelos quais menos prazer me começam a dar os shows da ROH, aliado à incrivel perca de talento desde que vários wrestlers fizeram as malas para outras paragens.
Mas parece-me um argumento ingénuo pensares que este sentimento também não faz parte de muitos fãs da WWE que se diferenciam de outras coisas com o wrestling e também têm reacções estupidas ao que vêm.
A auto-estima dos espectadores foi colocada em questão quando a problemática do "querer ser diferente" foi inserida.
não vou fazer revisão de texto, é provavel que me tenha desviado, depois eventualmente corrijo. De todo o modo, não me interessa tanto discutir porque é que as indys têm mais ou menos sucesso numa determinada população mas antes o porquê de eu me divertir a ver determinadas promoções.
Estranho que um gajo que é fã de wrestlers como o Benoit ou o Regal não aprecie o trabalho de lutadores independentes como o Danielson ou o Aries, estranha-me se não gostares de um combate como o que eu postei no meu artigo anterior.
Se passares os olhos pelo segundo video do meu outro artigo, mesmo que não aches mais piada aquilo que à mini Royal Rumble da WWE, e que aches um humor parvinho, acho que talvez entendas porque é que as pessoas vão, e se divertem legitimamente nos shows
O problema do ensino da filosofia parece-me um problema mais geral que apenas "ter um bom professor". Como em tudo o que tem a ver com este assunto, o problema é o sistema, são os professores, e são também os alunos. Os alunos não são meros receptores de informação! São parte activa no processo educativo. E se muitas vezes a filosofia é um miss e não um hit, isso também é responsabilidade dos alunos. Mas isso está fora da questão.
Dizes, e muito bem, que o "modelo de argumentação apresentando (...) peca por establecer permissas universais de avaliação de inicio de depois deduzir a partir delas o que é melhor ou pior". É por isso mesmo que eu, em geral, sou consequencialista e não "a priorista". Dizes também que "amanhã posso ver um combate com algo que nunca tinha visto e gostar", o que é igualmente verdade, pois trata-se da mera subjectividade que motiva todo este post. E a partir daí descarrilas para mais um festival de particularismos.
Vamos lá ver se consigo ser claro. As discussões de "este combate foi bom e aquele foi mau" são ridículas, porque isso é demasiado subjectivo. De facto, até a mesma pessoa entre diferentes momentos de tempo tem opiniões distintas, sem haver necessariamente coerência ou consistência entre elas. É demasiado descricionário. Esse tipo de caracterização só serve como exemplo após ser enunciada uma teoria geral.
Em última análise, a teoria tem de descrever bem os resultados, ou seja, se eu acho que, em tese, a WWE tem melhores condições para me oferecer um bom show de Wrestling, então depois tenho que de facto sentir-me mais envolvido nos seus programas. Mas o contrário não é verdadeiro. Ou seja, é óbvio que eu gosto de alguns combates e de algumas feuds de indys. O que ainda não entendeste é que nada, mas nada, do que eu digo contraria isso.
E portanto é importante que entendas o que vou dizer a seguir. Nos relambórios de exemplos que escreves estás a responder não sei a quem. A mim não é de certeza, porque eu não coloco a discussão a esse nível. Só o fiz uma vez, num reply a um post teu. Aquilo que dizes, do "não me interessa tanto discutir porque é que as indys têm mais ou menos sucesso numa determinada população mas antes o porquê de eu me divertir a ver determinadas promoções", é aquilo com que discordo profundamente, e o que justifica que andamos para aqui a falar de coisas diferentes. Não quero saber porque gostas do combate X ou do lutador Y. Isso é o equivalente ao argumento da experiência pessoal para o fenómeno religioso: não prova nada e não interessa a ninguém senão ao próprio. Parece-me muito mais interessante discutir as coisas em abstracto. E presta-se muito melhor serviço à divulgação do Wrestling. Deves divertir-te a ver Wrestling, sim. Mas dizeres que te divertes com os exemplos "a" e "b" não me parece o mais importante.
Para ilustrar este ponto, é fácil ver que eu nunca disse que gostava nem que não gostava do Danielson ou do McGuiness ou do Aries (ok, deste último não gosto) ou do Samoa Joe. Até gostaria muito de os ver a todos na WWE, e acho que lá poderiam ter muito sucesso. Para citar alguns, basta ver o CM Punk ou a Mickie James/Alexis Laree.
Mas eu acho importante os particularismos, quer dizer, se me expões "não gosto das indys por isto" e depois o exemplo é Briscoes vs MCMG que apesar de ser um combate aclamado por uma parte dos ROH fãs mas que não foi sequer dos melhores combates dos Briscoes, então estás a atacar uma parte das indys que está longe de ser representativa do todo.
A ROH 2007 foi spotty, a fazer lembrar 2003, houve muito lixo, foi dos piores anos da ROH, que está a recuperar da perda de talento para a TNA e que falhou em algumas das storylines. Nem por isso deixou de ter bons combates e segmentos nos seus shows.
A ROH está numa fase de procura de identidade, onde não se sabe bem se está a investir nos antigos X division fans que ficaram desiludidos com o rumo da TNA, ou se volta ao produto que teve em anos passados. Hoje, entrei no forum da ROH e vejo dois tópicos intitulados de "Whats wrong with spotfests and head drops" e "Too much emphasis on workrate in ROH?", e a resposta que a ROH der e os fãs que decidir satisfazer é o que vai determinar o meu interesse pela companhia em 2008.
Não é por isso que eu vejo indys. Agora, para compreender a tua argumentação os particularismos dão me jeito, se vires o Punk vs AJ e me disseres "não gostei, o AJ não vende o trabalho do Punk no braço, bla bla bla" é mais fácil compreender o que entendes pelas coisas. E com um exemplo induz-se muita coisa.
Não quero com isto querer dizer que se por acaso visses o dito combate e gostasses que se poderia concluir que afinal gostas de indys, o ponto é mesmo que se o fizesses e explicasses porque é que dele gostaste eu ficava a saber do que é que gostas.
Mas aparentemente isto não é uma discussão subjectiva, nem nós somos opinadores, e de um momento para o outro trata-se de provar coisas, que como não sou cientista formado nem tenho meios para desenvolver tal tipo de estudo não o vou pretender fazer em termos de senso comum.
Não se trata de provar nada cientificamente, até porque isto não é ciência. Trata-se de ir do geral para o particular. Mais uma vez me vejo obrigado a repetir, como eu julgava que com este post tinha ficado claro, que um exemplo não prova nada. O exemplo que dei dos Briscoes vs. MCMG nunca foi apresentado por mim como justificação de coisa alguma. Da mesma forma, a ROH foi apenas um exemplo que usei. E, quer a consideres representativa quer não, é a mais conhecida e reputada indy nos EUA.
Da única vez em que ataquei em concreto um combate indy específico, não obtive resposta para além de um "gostos não se discutem" de alguém. E com toda a justiça, aliás. Discordo dessa máxima, mas é verdade que ao discutirmos pormenores e combates entramos em terrenos lamacentos. Correndo esse risco, deixa-me então mudar de estratégia.
Afinal, tu acusas-me de dar exemplos pela negativa, generalizando-os para dizer que as indys não prestam. Como já expliquei, isso é falso. Mas na verdade não é isso que tu estás a fazer pela positiva? Ou seja, estás a pegar em combates particulares de que gostaste, querendo com isso justificar a atenção que dás às indys. Mas esses bons combates serão representativos?
Em cada 10 combates numa indy, quantos, até para um fã dedicado, valem os 5 ou 10 minutos do nosso tempo que duram? Se me responderes acima de 5, acho que não estás a ser honesto. Nesse caso, coloca aqui shows inteiros em vez de combates soltos, e deixa as pessoas julgarem por si. Aposto que não mais de 1 ou 2 combates em 10 prestam.
E a WWE (imagino-te a dizer), não é também assim? Parece-me claro que não. Quanto mais não seja pelas storylines, a maioria dos combates da WWE são interessantes. Esses shows eu não preciso de colocar aqui, pois qualquer um pode acompanhar todas as semanas. Mais uma vez, fica ao critério de quem vê.
Há bons lutadores e bons combates nas indys? Certo. O Danielson e os Briscoes são bons? Certo também. Mas em algo isso implica que, em geral e na maior parte dos casos, as indys são um bom produto? Penso que não.
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