Um se por terra, dois se por mar
Saudações, fadistas da minha terra.
Já dizia o Kup no lendário filme dos Transformers (o de 1986, nada de confusões) que uma pessoa começa a perceber que está velha quando tudo o que acontece lhe lembra alguma coisa que já aconteceu antes ou que já viu anteriormente noutro sítio qualquer. Se a simples referência a um filme de 1986 não fosse já por si só prova de eu estar velho, o facto é que o combate do main event do Great American Bash, este domingo, me recorda a minha história favorita do Conan, escrita pelo Robert E. Howard no longínquo ano de 1934. Nessa história, cuja leitura escusado será dizer recomendo vivamente, a cidade de Khauran estava dominada pelo tirano Constantius, que se preparava para enfrentar o exército do Conan em batalha. Ao ver os preparativos para a peleja, o povo não sabia bem o que desejar, já que a vitória do Constantius significaria a continuação da miséria abjecta em que viviam, enquanto que a vitória do Conan (do qual apenas sabiam que era um bárbaro) representaria provavelmente o massacre da cidade. Explicado isto, por certo entendem o dilema em que me encontro quando o John Cena se prepara para defender o título contra o Bobby Lashley.
Quem me conhece é porventura capaz de já ter formulado a hipótese de eu não ser propriamente o fã número 1 do Cena, e de não acordar mais cedo todos os dias só para poder passar mais tempo a ter fantasias homoeróticas a olhar para pósteres do homem. Arriscando um pouco mais, e fazendo uso dos apurados poderes de dedução que invariavelmente se adquirem a ver DVDs do Sherlock Holmes com o magnífico Jeremy Brett, até se pode avançar que eu estou fartinho de ter aquele palerma shoved down my throat semana sim semana sim. Perante tudo isto, e tendo em conta que eu já tinha basicamente aceite que o Cena seria campeão pelo menos até se retirar da WWE, possivelmente até durante alguns anos mais depois dessa data feliz, poderiam pensar que eu aguardava com ansiedade por esta defesa do título contra o Lashley, já que este será talvez o primeiro adversário desde o Triple H que eu acredito que tem realmente hipóteses de conquistar o título. Pois se pensam isto, estão muito enganados. Flagelem-se a vós próprios por pensarem uma coisa dessas.
Contudo perguntam-me vocês agora, no meio das dores lancinantes causadas pelo gato de nove caudas a arrancar-vos pele e carne das costas, “Mas mestre Royce, depois de nove meses com esse Vanilla Ice cheio de esteróides como campeão, não será bom se ele perder finalmente o título?”. Em teoria sim, mas quando se salta da frigideira é preciso ter-se cuidado para não se cair no fogo, e para mim é isso que está aqui em perspectiva. É que o adversário do Cena neste PPV não se chama Randy Orton, nem Mr. Kennedy, nem Shawn Michaels, nem muito menos Triple H... chama-se Bobby Lashley, e para mim está aí o primeiro grande problema. Para quem não sabe (ou melhor dizendo, não se deu ao trabalho de pesquisar) o nome completo do Lashley é Franklin Roberto Lashley. Ora se Frank é um nome absolutamente macho, ou não fosse esse o nome do Punisher, já Bobby não é propriamente um nome que associemos a um negro enorme. Quanto muito poderia ser nome para um personagem white trash no “My Name is Earl”. Sobretudo, Bobby não é nome de campeão.
Contornando este handicap do nome (é preciso fazer um desvio muito grande, mas enfim) chegamos à parte das mic skills. Uma vez lá chegados constatamos rapidamente que não há nada para ver e voltamos a subir para o comboio, que não queremos ter de passar 15 minutos da nossa vida naquele deserto. Outra boa maneira de descrever o talento do Lashley com o microfone será dizer que ele tem ainda menos jeito que os Milli Vanilli, mas receio que pouca gente apanhe esta referência. Em termos de expressões faciais também não temos grande sorte, a não ser que tenhamos um fetiche por olhos esbugalhados. Perante isto, que podemos concluir? Que o Lashey é um powerhouse sólido no ringue e que por algum motivo que talvez nunca chegue a perceber o público delira com ele, mas em tudo o resto é de uma miséria absolutamente franciscana. Depois de dez meses de sofrimento e desespero com as vitórias sucessivas do John Cena, é possível que este esteja agora em posição de citar o velho ditado português do “Atrás de mim virá quem de mim bom fará.”. É que se é uma verdade insofismável que um herói da classe operária como eu já não pode ver o Cena à frente, não será menos verdade dizer que também não estou propriamente ansioso por ter o Bobby Lashley como campeão.
Tal como os habitantes de Khauran, dou por mim sem saber quem quero que vença o combate de domingo. Será que as coisas vão continuar como estão, ou será possível que ainda consigam piorar? O ideal para mim seria haver um árbitro convidado e uma estipulação teoricamente banal de “quem conseguir o pin ou submissão será campeão”. Claro está que ao princípio toda a gente acharia isto desnecessário, que afinal de contas é assim em todos os combates, mas às tantas o Cena faria o F-U ao Lashley e antes de conseguir avançar para a cover sofreria o finisher do árbitro convidado. O público ficaria todo abananado, sem perceber o que se estava a passar, mas então o árbitro convidado fazia a cover a um dos dois wrestlers e aparecia eventualmente um novo árbitro que fazia a contagem até 3 e lhe atribuía o título de campeão, ficando-se assim a perceber o porquê da estipulação inicial. Este árbitro convidado poderia ser o Mr. Kennedy, por exemplo, que com isto teria um início de reinado absolutamente memorável, e durante as semanas seguintes o Cena e o Lashley podiam lutar entre si, com cada um deles a defender ter sido prejudicado pelo Kennedy e ter o direito de ser o primeiro a desafiá-lo pelo título. Este booking seria fabuloso, mas acho mais provável a Eliza Dushku casar-se comigo do que a WWE ter uma ideia destas.
Enfim, alea jacta est, e essas coisas. Domingo logo veremos que sorte nos calha na rifa.
Já dizia o Kup no lendário filme dos Transformers (o de 1986, nada de confusões) que uma pessoa começa a perceber que está velha quando tudo o que acontece lhe lembra alguma coisa que já aconteceu antes ou que já viu anteriormente noutro sítio qualquer. Se a simples referência a um filme de 1986 não fosse já por si só prova de eu estar velho, o facto é que o combate do main event do Great American Bash, este domingo, me recorda a minha história favorita do Conan, escrita pelo Robert E. Howard no longínquo ano de 1934. Nessa história, cuja leitura escusado será dizer recomendo vivamente, a cidade de Khauran estava dominada pelo tirano Constantius, que se preparava para enfrentar o exército do Conan em batalha. Ao ver os preparativos para a peleja, o povo não sabia bem o que desejar, já que a vitória do Constantius significaria a continuação da miséria abjecta em que viviam, enquanto que a vitória do Conan (do qual apenas sabiam que era um bárbaro) representaria provavelmente o massacre da cidade. Explicado isto, por certo entendem o dilema em que me encontro quando o John Cena se prepara para defender o título contra o Bobby Lashley.
Quem me conhece é porventura capaz de já ter formulado a hipótese de eu não ser propriamente o fã número 1 do Cena, e de não acordar mais cedo todos os dias só para poder passar mais tempo a ter fantasias homoeróticas a olhar para pósteres do homem. Arriscando um pouco mais, e fazendo uso dos apurados poderes de dedução que invariavelmente se adquirem a ver DVDs do Sherlock Holmes com o magnífico Jeremy Brett, até se pode avançar que eu estou fartinho de ter aquele palerma shoved down my throat semana sim semana sim. Perante tudo isto, e tendo em conta que eu já tinha basicamente aceite que o Cena seria campeão pelo menos até se retirar da WWE, possivelmente até durante alguns anos mais depois dessa data feliz, poderiam pensar que eu aguardava com ansiedade por esta defesa do título contra o Lashley, já que este será talvez o primeiro adversário desde o Triple H que eu acredito que tem realmente hipóteses de conquistar o título. Pois se pensam isto, estão muito enganados. Flagelem-se a vós próprios por pensarem uma coisa dessas.
Contudo perguntam-me vocês agora, no meio das dores lancinantes causadas pelo gato de nove caudas a arrancar-vos pele e carne das costas, “Mas mestre Royce, depois de nove meses com esse Vanilla Ice cheio de esteróides como campeão, não será bom se ele perder finalmente o título?”. Em teoria sim, mas quando se salta da frigideira é preciso ter-se cuidado para não se cair no fogo, e para mim é isso que está aqui em perspectiva. É que o adversário do Cena neste PPV não se chama Randy Orton, nem Mr. Kennedy, nem Shawn Michaels, nem muito menos Triple H... chama-se Bobby Lashley, e para mim está aí o primeiro grande problema. Para quem não sabe (ou melhor dizendo, não se deu ao trabalho de pesquisar) o nome completo do Lashley é Franklin Roberto Lashley. Ora se Frank é um nome absolutamente macho, ou não fosse esse o nome do Punisher, já Bobby não é propriamente um nome que associemos a um negro enorme. Quanto muito poderia ser nome para um personagem white trash no “My Name is Earl”. Sobretudo, Bobby não é nome de campeão.
Contornando este handicap do nome (é preciso fazer um desvio muito grande, mas enfim) chegamos à parte das mic skills. Uma vez lá chegados constatamos rapidamente que não há nada para ver e voltamos a subir para o comboio, que não queremos ter de passar 15 minutos da nossa vida naquele deserto. Outra boa maneira de descrever o talento do Lashley com o microfone será dizer que ele tem ainda menos jeito que os Milli Vanilli, mas receio que pouca gente apanhe esta referência. Em termos de expressões faciais também não temos grande sorte, a não ser que tenhamos um fetiche por olhos esbugalhados. Perante isto, que podemos concluir? Que o Lashey é um powerhouse sólido no ringue e que por algum motivo que talvez nunca chegue a perceber o público delira com ele, mas em tudo o resto é de uma miséria absolutamente franciscana. Depois de dez meses de sofrimento e desespero com as vitórias sucessivas do John Cena, é possível que este esteja agora em posição de citar o velho ditado português do “Atrás de mim virá quem de mim bom fará.”. É que se é uma verdade insofismável que um herói da classe operária como eu já não pode ver o Cena à frente, não será menos verdade dizer que também não estou propriamente ansioso por ter o Bobby Lashley como campeão.
Tal como os habitantes de Khauran, dou por mim sem saber quem quero que vença o combate de domingo. Será que as coisas vão continuar como estão, ou será possível que ainda consigam piorar? O ideal para mim seria haver um árbitro convidado e uma estipulação teoricamente banal de “quem conseguir o pin ou submissão será campeão”. Claro está que ao princípio toda a gente acharia isto desnecessário, que afinal de contas é assim em todos os combates, mas às tantas o Cena faria o F-U ao Lashley e antes de conseguir avançar para a cover sofreria o finisher do árbitro convidado. O público ficaria todo abananado, sem perceber o que se estava a passar, mas então o árbitro convidado fazia a cover a um dos dois wrestlers e aparecia eventualmente um novo árbitro que fazia a contagem até 3 e lhe atribuía o título de campeão, ficando-se assim a perceber o porquê da estipulação inicial. Este árbitro convidado poderia ser o Mr. Kennedy, por exemplo, que com isto teria um início de reinado absolutamente memorável, e durante as semanas seguintes o Cena e o Lashley podiam lutar entre si, com cada um deles a defender ter sido prejudicado pelo Kennedy e ter o direito de ser o primeiro a desafiá-lo pelo título. Este booking seria fabuloso, mas acho mais provável a Eliza Dushku casar-se comigo do que a WWE ter uma ideia destas.
Enfim, alea jacta est, e essas coisas. Domingo logo veremos que sorte nos calha na rifa.
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