Blog Pro Wrestling Portugal: Montréal Screwjob



Montréal Screwjob

Todos já ouvimos falar deste dia marcante (para o bem ou para o mal) na história do pro wrestling: sem que Bret Hart contasse (nem desistisse perante o Sharpshooter), Vincent Kennedy McMahon mandou soar a campainha e retirou o Título da WWF ao canadiano, dando uma vitória fantasma a Shawn Michaels. Ao longo dos anos, sobretudo no Canadá, mas um pouco por todo o mundo, os fãs do Hitman têm-se mostrado enojados com a conduta de McMahon e Michaels e desprezam-nos. Mas será que eles têm razão?

Em Agosto de 1997, no SummerSlam, Bret Hart conquistou o Campeonato da WWF, derrotando para isso Undertaker, num combate em que Shawn Michaels esteve envolvido como árbitro. Este foi o mote para o retomar da rivalidade entre os dois, que já durava desde alturas do Survivor Series de 1992 e que tinha entretanto assistido a algumas peripécias resultantes de jogos de bastidores por parte de Michaels. Durante o seu reinado, Hart recebeu uma tentadora proposta da WCW e aceitou-a, com o aval de McMahon. O problema era o título: o dono da companhia queria que o canadiano o perdesse para Michaels no seu país natal, mas ele recusava-se a fazê-lo. Foi acordado um final em desqualificação e uma mudança de mãos do título no dia seguinte, já em solo norte-americano, no RAW is WAR.

No entanto, com medo que o seu cinto principal tivesse o mesmo destino que o Título Feminino quando Alundra Blayze trocou de Stamford para Atlanta (o lixo), McMahon engendrou um plano para retirar o ceptro máximo da sua promoção a Bret Hart. Esse plano, posto em prática com conhecimento e acordo de Michaels e Earl Hebner, o árbitro do combate, fez com que, enquanto preso no Sharpshooter e a tentar inverter a manobra, como combinado previamente, Hart ouvisse a campainha soar, como se tivesse desistido. Michaels saiu rapidamente da arena, enquanto objectos começaram a voar para o ringue, enquanto o ex-campeão, lívido, pontapeava a mesa dos comentadores e desenhava no ar as letras da promoção concorrente, mas não sem antes cuspir em McMahon. No mês seguinte, Hart interferiria no combate principal do Starrcade 1997, uma das maiores banhadas da história da WCW, marcada pelo final sujo que não agradou a ninguém, depois de um ano à espera de ver Sting lutar contra Hollywood Hogan pelo Título da nWo/WCW.

Mas será Hart o bom da fita? A verdade é que Vince McMahon viu o seu negócio em risco e não podia arriscar. A sua atitude não foi com toda a certeza a mais correcta possível, mas o Hitman também não agiu da melhor maneira. “The guy leaving always does the job” é uma expressão bem conhecida dos adeptos da modalidade e Hart recusou-se a cumprir esta máxima sem condições, numa altura em que, da perspectiva de McMahon, o risco de acontecer algo parecido com o que Blayze fizera era grande. Hart pôs o seu orgulho à frente do negócio. O que perderia ele em entregar o título a Michaels? A sua reputação era intocável, tanto no Canadá como nos Estados Unidos da América. Era uma das suas últimas aparições na WWF, senão mesmo a última, e nunca mais teria de enfrentar Michaels. E o público rapidamente esqueceria esta derrota, porque ele mover-se-ia para um território novo, com novos adversários e um novo mundo para explorar.

Vince McMahon fez aquilo que eu faria, se estivesse no lugar dele. A WWF estava a bater no fundo e precisava de manter o seu prestígio intacto, sob pena de se afundar irreversivelmente nas Monday Night Wars. O risco era grande e não havia nada a perder em fazer o “screwjob” – Bret Hart em breve estaria longe da promoção e a vida prosseguiria na empresa de Stamford, sem o Hitman por perto e com Shawn Michaels a ser o cabeça de cartaz. Se Hart se recusava a perder, só havia uma maneira de lhe retirar o título: sem ele saber, e foi isso que McMahon fez.

O impacto deste acontecimento, esse é inegável e trouxe coisas positivas à WWF. A principal foi o surgir de uma nova personagem (recentemente “morta”), o maléfico dono da promoção, Mr. McMahon, que, juntamente com Steve Austin, seria um dos mais importantes motores da Attitude Era, com a lendária rivalidade entre os dois. É curioso notar que Hart arrastou consigo as más audiências, porque deixou a WWF numa altura de crise e entrou na WCW pouco antes de ela entrar em queda livre – aliás, ele participou mesmo no evento que foi para muitos o princípio do fim da WCW, o Hogan vs. Sting do Starrcade 97, como referi anteriormente. Coincidência ou não, a verdade é que Hart escolheu o pior lado e acabou na companhia que saiu derrotada das Monday Night Wars e lesionado irreversivelmente, depois de um Shuffle Side Kick mal executado por Bill Goldberg. McMahon foi o último a sorrir, após comprar a concorrência. E quanto a Shawn Michaels, uma grave lesão nas costas sofrida num Combate de Caixão contra Undertaker na Royal Rumble 1998 pô-lo-ia fora de combate por mais de 4 anos, mas nem por isso deixou de aparecer na televisão enquanto comissário e voltou à acção no SummerSlam 2002, enfrentando o seu melhor amigo e um dos seus maiores rivais nos guiões, Hunter Hearst Helmsley.

Independentemente do talento indiscutível possuído por Bret Hart, a sua saída representou a oportunidade de afirmação da nova super-estrela da companhia, que catapultaria a WWF para a vitória nas Monday Night Wars. E, com a sua decisão de abandonar o barco, não restava alternativa a McMahon. A sua atitude, ética ou não, deu um safanão a uma promoção moribunda e conferiu-lhe vida, muito necessária para a batalha que se travaria nos 3 anos e meio seguintes. Sem ela, talvez ainda hoje assistíssemos ao Monday Nitro todas as segundas e ao Thunder todas as quintas.
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5 Comentários:

Em terça-feira, 19 junho, 2007, Blogger Royce Gracie disse...

Muito bem escrito! Em relação a quem tem razão, sinceramente é daquelas situações em que compreendo bem a posição de ambos (que tu aliás muito bem explicaste) e entendo que tenham reagido da maneira que reagiram. Se por um lado o Vince era o dono da WWE e o Bret tinha mais era que acatar as ordens dele sem discutir, por outro lado o Bret teve sempre (tanto quanto sei) uma postura exemplar e não merecia perder na despedida diante dos seus fãs contra alguém que odiava.

Enfim, cada um fez o que achou melhor e sorte a nossa de não termos estado no lugar de nenhum deles. Seja como for o Montréal Screwjob é hoje um dos episódios mais marcantes da história do Wrestling, que duvido sinceramente que possa vir a ser superado. A não ser que a Eliza Dushku seja anunciada como nova diva da WWE, claro está.

 
Em quarta-feira, 20 junho, 2007, Blogger Ricardo disse...

Não concordo nada contigo. Esse episódio foi apenas um de muitos que marcam o carácter de Vince McMahon, e sobretudo de Shawn Michaels, e que mostram a postura no wrestling destes dois indivíduos.

Bret Hart nunca escolheu a WCW. Ele recebeu uma proposta e recusou, ficando na WWE por muito menos dinheiro, e assinando um contrato de 20 anos que na prática implicaria que ele ficaria sempre com Vince até ao final da sua carreira. Só que pouco tempo depois, Vince pediu-lhe para sair, porque supostamente já não lhe poderia pagar (mas pôde, por exemplo, pagar um contrato de 10 anos a Mark Henry). Foi essa a razão que levou Bret a sair: um pedido como favor pessoal do patrão e amigo. E, para além de lhe ter feito o favor de, contra sua vontade, ir para a WCW, ainda teria de perder o título para Shawn Michaels?

A razão porque Bret se recusou a perder foi ser HBK o adversário. Se fosse Stone Cold, Undertaker, ou outro, tudo bem. Mas Michaels é a antítese do que Bret representava. Um wrestler exagerado, que em vez da verosimilhança das manobras prefere "vender" de forma ridícula coisas sem qualquer fundamento (como o "skin the cat", tanto nas cordas como no canto). Para além disso, Shawn tinha sido sempre um indivíduo extremamente incorrecto e pouco profissional para com Bret. Bret fez bem em não perder o título para Shawn.

Por último, o mito que esse foi o advento da grande WWE também se tem vindo a perpetuar, mas é mentira. A própria WWE gosta de dizer isso, porque lhe convém, e exagera o papel de McMahon, para no fundo lhe dar mais crédito do que ele merece pela posição que hoje a empresa goza. Só que na verdade mesmo depois de Bret ir para a WCW, a WWE continuou a afundar-se durante largos meses. A inversão não aconteceu aí, nem sequer com Shawn Michaels - aconteceu com Stone Cold, The Rock, Kurt Angle e HHH, muito tempo depois. Aconteceu com Chris Jericho e Big Show, contratados a uma WCW em queda. E aconteceu, mais do que pelo mérito de McMahon, por demérito da promoção de Turner. E o próprio Bret é exemplo disso, de como tantos wrestlers eram mal usados: estreou-se no Starcade ao mais alto nível, passou por uma pseudo-feud com Ric Flair, e sem dar por ela andava a perder com Brian Adams (Crush da WWE) e a servir de lacaio de Hogan. A WWE não assassinou a WCW. A WCW suicidou-se. E Vince não merece nem metade do crédito que lhe é dado. Os seus conhecimentos da indústria são hoje bem visíveis. O grande mérito dele é saber tornar certos wrestlers carismáticos em certos momentos invencíveis o suficiente para fazer dinheiro à sua custa.

Sou um absoluto mark de Bret Hart, o meu wrestler favorito de sempre. Deixei de ver wrestling durante uns tempos quando esse desastre no ringue que é Bill Goldberg lhe terminou a carreira. Mas gostar das suas abilidades no ringue não implica que tenha de o defender sempre em políticas de bastidores. E em muitos casos não defendo. Só que neste caso do Montreal Screwjob, a WWE reescreve a história a seu bel-prazer, e os fãs parecem ir na conversa. Vince McMahon fez algo desprezável, moral, ética e profissionalmente, como em tantos outros casos. Foi uma má decisão de gestão, porque a WWE continuou durante algum tempo a afundar-se, e foi a chegada de um grande Stone Cold, em conjugação com a auto-destruição da WCW, que inverteram a situação.

E, para terminar, pior ainda foi a acção de Shawn Michaels. Vince, mesmo tendo sido o que foi, e mesmo tendo estado, no meu entender, errado, estava de facto a tentar proteger os seus interesses. Agora, Shawn era colega de Bret. Ele aceitou ganhar um título daquela forma. Que tipo de ser humano baixo faz algo assim a um colega?...

 
Em quarta-feira, 20 junho, 2007, Blogger Sérgio Sampaio disse...

O Ricardo Teixeira tirou-me as palavras da boca. Quem defende o McMahon nesta história simplesmente não conhece todos os factos ou então é mark pelo HBK e não consegue dizer nada que vá contra ele.

Para já, essa história de o Bret Hart fazer ao WWF Title o mesmo que fizeram ao título feminino é estúpida. Não havia ninguém mais fiel à WWF do que o Bret e ele só saiu porque o Vince lhe pediu. Não o estou a ver a dizer mal da WWF uma vez na WCW, seria das primeiras coisas que ele se recusaria a fazer, quanto mais mandar o título para o lixo...

Segundo, até parece que o Bret era um Hogan e não aceitava jobbar de maneira alguma... Ele aceitou perder o título para o HBK desde que não fosse em Montreal ou então para qualquer outra gajo mesmo em Montreal. Só não queria perder na sua própria casa contra o gajo que lhe disse na cara que nunca jobbava para ele. Foi o único pedido de um gajo que estava lá há anos, sempre foi fiel, tinha creative control e nunca o usou até àquela altura.

Agora digam-me qual era o problema de o Bret perder o título na Raw seguinte em vez de ser no Survivor Series? Isso é que gostava de saber...

 
Em quarta-feira, 20 junho, 2007, Blogger Ricardo disse...

Sim, Sérgio, tens razão, e faltou-me essa parte. O ponto é que o show se passava, ainda por cima, em Montreal. Portanto, não há mesmo atenuante nenhuma para Vince mcMahon ou Shawn Michaels, por muito que a WWE reescreva a história de forma quase Orweliana. O que Bret fez foi inteiramente natural, ético e compreensível.

É pena que isto tenha acontecido a um homem que carregou a empresa às costas durante muito tempo, tendo sido o único grande nome da WWE depois de Hogan e antes de Stone Cold. É pena ver que hoje já poucos se lembram da qualidade que ele tinha, é pena que Vince seja tido como o grande génio das Monday Night Wars, e é pena que Shawn Michaels seja o "face" que é. Mas pelo menos mantenham-se os factos!

 
Em quarta-feira, 21 maio, 2008, Blogger Homem do Mundo disse...

vejam o documentario, o bret hart nao foi profissional, shawn michaels nao merecer ser desprezado por ning, vcs julgam demais sem terem visto os bastidores, as atitudes do vince são dele, ele faz o que acha melhor pra empresa dele, só pq era no canadá? isso so deixa o storyline melhor...

 

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