O bom, o mau e o tweener
Saudações, fadistas da minha terra.
Uma das coisas que faz o Wrestling tão popular é o facto de apelar a uma camada da população ainda demasiado nova para se interessar pelos desportos de competição clássicos, como o futebol americano, o baseball e essas coisas estranhas com que o pessoal lá nos States se entretém. Esse fascínio dos mais jovens consegue-se não só com a exuberância dos lutadores e dos próprios combates, mas também com um elemento muito simples e até aqui eficaz: a simplicidade das histórias. Se no futebol Benfica e Porto são o bom e o mau ou o mau e o bom, dependendo do ponto de vista de cada um, já no Wrestling é tudo muito mais simples, visto que os próprios lutadores poupam o trabalho às pessoas escolhendo a facção a que pertencem.
Durante muitos anos este sistema funcionou na perfeição. O lutador que entrava no ringue a rosnar, mandava calar o público e usava golpes baixos era obviamente vaiado, enquanto que o que entrava sorridente, cumprimentava a audiência e cumpria as regras era claramente o herói. O público apoiava-o e puxava por ele nas alturas em que (inevitavelmente) passava por uma fase mais agreste no combate. No final, independentemente do resultado, os lutadores recebiam nova dose do tratamento que tinham tido a caminho do ringue. As coisas eram mais simples nesses tempos, na base do preto e do branco, sem espaço para as tonalidades de cinzento. A WWF dizia “está aqui o vosso herói” ou “está aqui o vosso vilão” e o público reagia em conformidade sem hesitar. Quando era preciso mudar de campo também bastava seguir a fórmula antiga... ou se culpava um parceiro por uma derrota e se passava a mau, ou se tinha uma atitude nobre e se passava a bom. E na semana seguinte o wrestler já podia aparecer ao lado de antigos adversários sem que isso parecesse minimamente estranho, partia-se do princípio que no espaço entre um e outro combates tinham feito as pazes e descoberto terem muitas coisas em comum.
Entretanto o mundo foi mudando, e essas mudanças também se fazem sentir nos espectadores de Wrestling. Se as crianças de tenra idade e cérebro ainda em formação continuam a apoiar os wrestlers que a WWE lhes impinge, independentemente de não conseguirem falar ao microfone (Lashley), se comportarem como uns autênticos imbecis (Cena) ou tornarem o próprio cinto de campeão em algo de ridículo (novamente Cena), já o público mais adulto elevou os seus padrões de exigência. Mais do que apoiar os bons contra os maus, os fãs cultos apoiam hoje quem os diverte, independentemente de serem heels ou faces. Quem não consegue mexer com o público, quer seja face ou heel, sofre algo muito pior que vaias... sofre silêncio e indiferença. Recentemente, no Pavilhão Atlântico, tivemos a oportunidade de ver o The Great Khali e o Randy Orton, supostamente heels, a terem ovações fabulosas, enquanto Santino Marella e Chuck Palumbo, que em outros tempos seriam aplaudidos, foram simplesmente ignorados. Já John Cena, o campeão da WWE e principal representante da companhia, teve segundo reports publicados em sites internacionais as segundas maiores vaias da noite, só atrás de Cade e Murdoch, que combateram contra o über favorito do público Ric Flair. Este tratamento do público seria completamente impensável na altura do Hulk Hogan, mas verdade seja dita o Hulkster era um campeão fabuloso, uma verdadeira lenda entre lendas, que não inspirava a repulsa dos verdadeiros fãs com spinner belts ou constantes insinuações gays.
É neste contexto que surge uma terceira figura: o tweener. Quando a própria Marvel decide matar o Capitão América, isso diz bem que o público está farto de heróis bonzinhos e muitas vezes ingénuos que se deixam enganar vezes sem conta por vilões mais espertos. O tweener pode ser face (Stone Cold) ou heel (nWo ou D-X originais), mas foge aos conceitos tradicionais desses papéis, já que se preocupa sobretudo em ser divertido para os fãs, em garantir que o público dá por bem empregue o dinheiro que pagou pelo bilhete. Com o Capitão América morto (por enquanto), são o Punisher e o Barracuda que brilham no mundo da banda desenhada, e cada vez mais também são os tweeners que dominam o Wrestling. O próprio Kurt Angle dizia, a meio da inevitável série de derrotas para John Cena, que após o público gritar “you suck!” durante a sua música de entrada o passava a aplaudir, por reconhecer que ele era infinitamente superior ao seu adversário. Perante isto, não será talvez descabido imaginar um futuro mais ou menos próximo em que já não existam faces nem heels, e em que cada wrestler se limite a ter uma personalidade interessante, que porventura desperte diferentes reacções em diferentes espectadores. Isto será sem dúvida um grande corte com a tradição do Wrestling, mas não tão grande como foi a transformação do cinto de campeão da WWE num objecto absurdo de bling bling.
Uma das coisas que faz o Wrestling tão popular é o facto de apelar a uma camada da população ainda demasiado nova para se interessar pelos desportos de competição clássicos, como o futebol americano, o baseball e essas coisas estranhas com que o pessoal lá nos States se entretém. Esse fascínio dos mais jovens consegue-se não só com a exuberância dos lutadores e dos próprios combates, mas também com um elemento muito simples e até aqui eficaz: a simplicidade das histórias. Se no futebol Benfica e Porto são o bom e o mau ou o mau e o bom, dependendo do ponto de vista de cada um, já no Wrestling é tudo muito mais simples, visto que os próprios lutadores poupam o trabalho às pessoas escolhendo a facção a que pertencem.
Durante muitos anos este sistema funcionou na perfeição. O lutador que entrava no ringue a rosnar, mandava calar o público e usava golpes baixos era obviamente vaiado, enquanto que o que entrava sorridente, cumprimentava a audiência e cumpria as regras era claramente o herói. O público apoiava-o e puxava por ele nas alturas em que (inevitavelmente) passava por uma fase mais agreste no combate. No final, independentemente do resultado, os lutadores recebiam nova dose do tratamento que tinham tido a caminho do ringue. As coisas eram mais simples nesses tempos, na base do preto e do branco, sem espaço para as tonalidades de cinzento. A WWF dizia “está aqui o vosso herói” ou “está aqui o vosso vilão” e o público reagia em conformidade sem hesitar. Quando era preciso mudar de campo também bastava seguir a fórmula antiga... ou se culpava um parceiro por uma derrota e se passava a mau, ou se tinha uma atitude nobre e se passava a bom. E na semana seguinte o wrestler já podia aparecer ao lado de antigos adversários sem que isso parecesse minimamente estranho, partia-se do princípio que no espaço entre um e outro combates tinham feito as pazes e descoberto terem muitas coisas em comum.
Entretanto o mundo foi mudando, e essas mudanças também se fazem sentir nos espectadores de Wrestling. Se as crianças de tenra idade e cérebro ainda em formação continuam a apoiar os wrestlers que a WWE lhes impinge, independentemente de não conseguirem falar ao microfone (Lashley), se comportarem como uns autênticos imbecis (Cena) ou tornarem o próprio cinto de campeão em algo de ridículo (novamente Cena), já o público mais adulto elevou os seus padrões de exigência. Mais do que apoiar os bons contra os maus, os fãs cultos apoiam hoje quem os diverte, independentemente de serem heels ou faces. Quem não consegue mexer com o público, quer seja face ou heel, sofre algo muito pior que vaias... sofre silêncio e indiferença. Recentemente, no Pavilhão Atlântico, tivemos a oportunidade de ver o The Great Khali e o Randy Orton, supostamente heels, a terem ovações fabulosas, enquanto Santino Marella e Chuck Palumbo, que em outros tempos seriam aplaudidos, foram simplesmente ignorados. Já John Cena, o campeão da WWE e principal representante da companhia, teve segundo reports publicados em sites internacionais as segundas maiores vaias da noite, só atrás de Cade e Murdoch, que combateram contra o über favorito do público Ric Flair. Este tratamento do público seria completamente impensável na altura do Hulk Hogan, mas verdade seja dita o Hulkster era um campeão fabuloso, uma verdadeira lenda entre lendas, que não inspirava a repulsa dos verdadeiros fãs com spinner belts ou constantes insinuações gays.
É neste contexto que surge uma terceira figura: o tweener. Quando a própria Marvel decide matar o Capitão América, isso diz bem que o público está farto de heróis bonzinhos e muitas vezes ingénuos que se deixam enganar vezes sem conta por vilões mais espertos. O tweener pode ser face (Stone Cold) ou heel (nWo ou D-X originais), mas foge aos conceitos tradicionais desses papéis, já que se preocupa sobretudo em ser divertido para os fãs, em garantir que o público dá por bem empregue o dinheiro que pagou pelo bilhete. Com o Capitão América morto (por enquanto), são o Punisher e o Barracuda que brilham no mundo da banda desenhada, e cada vez mais também são os tweeners que dominam o Wrestling. O próprio Kurt Angle dizia, a meio da inevitável série de derrotas para John Cena, que após o público gritar “you suck!” durante a sua música de entrada o passava a aplaudir, por reconhecer que ele era infinitamente superior ao seu adversário. Perante isto, não será talvez descabido imaginar um futuro mais ou menos próximo em que já não existam faces nem heels, e em que cada wrestler se limite a ter uma personalidade interessante, que porventura desperte diferentes reacções em diferentes espectadores. Isto será sem dúvida um grande corte com a tradição do Wrestling, mas não tão grande como foi a transformação do cinto de campeão da WWE num objecto absurdo de bling bling.
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