Uma noite no Wrestling
Saudações, fadistas da minha terra.
No século XVII, o Padre António Vieira concebeu a ideia do Quinto Império, o Império Português, que marcaria o domínio tuga sobre o mundo. Também Fernando Pessoa teve este ideal bem presente na sua magnum opus “Mensagem”. Não podemos dizer que já se veja a alba deste Quinto Império, mas ao menos nos últimos tempos temos tido shows de Wrestling em terras lusas. Não será exactamente a mesma coisa que o domínio do mundo, mas já é um princípio.
Após um hiato de onze anos a WWE regressou a Portugal em Dezembro de 2006, com dois eventos da SmackDown, os quais naturalmente tiveram casa cheia no Pavilhão Atlântico, com os bilhetes a voarem mais depressa do que a roupa interior da Paris Hilton numa convenção de ninfomaníacas. Perante tamanho sucesso, a WWE decidiu que estava na hora de trazer até nós a sua brand principal, aquela que durante muitos e bons anos se misturava com a WWF/E em si. Em boa hora o fez, porém (e apesar do que o Bruno Nogueira nos tenta convencer) é bem sabido que perfeita só a Eliza Dushku, e esta visita da Raw a Portugal não foi excepção.
Os problemas começaram meses antes do avião com os lutadores aterrar no Aeroporto de Lisboa. Triple H, campeão da WWE por 10 vezes e de longe uns dos lutadores mais técnicos e carismáticos de sempre, contraiu uma lesão grave e ficou irremediavelmente afastado do privilégio de actuar em Portugal. Mais recentemente o seu parceiro nos D-X, o Heartbreak Kid Shawn Michaels, ressentiu-se de um acumular de lesões e foi também obrigado a parar. Na SmackDown, a segunda brand, foi a lenda Undertaker e a promessa Mr. Kennedy a seguirem o caminho da enfermaria, o que obrigou a WWE a transferir para lá o maior heel da actualidade, Edge, a fim de desempenhar as funções de campeão e principal representante da brand. Dando razão ao ditado brasileiro “vaso ruim não quebra”, um dos poucos main eventers da Raw a escapar a esta onda de lesões foi justamente o campeão John Cena, o qual se prepara para celebrar em Setembro de 2016 a bonita marca de 10 anos seguidos com o título.
Chegada a data dos eventos da Raw em Portugal a expectativa era muita, pese embora as três enormes ausências que se faziam sentir, mas o grande problema acabou por ser o público. É certo e sabido que uma das principais armas do Wrestling é conseguir ser apelativo para crianças de tenra idade, que mesmo não ligando ainda a coisas como futebol ou música (excepto Floribella) se deixam levar pela cor e movimento dos espectáculos de luta livre. Ora se isto em termos de vendas de merchandising é muito bom, tanto assim que nem sei se existem t-shirts do Cena em tamanho para adulto (quem no seu perfeito juízo as compraria?), há o contraponto da falta de participação dos espectadores. Não só as crianças pequenas ficam algo assustadas por todo o ambiente e limitam-se a assistir em silêncio, como também vêm inevitavelmente acompanhadas pelos pais, que em muitos dos casos não seguem nem apreciam Wrestling. Multiplicando isto por muitas crianças e muitos pais, temos que boa parte da assistência se limita a bater palmas esporadicamente, deixando-se estar num silêncio quase sepulcral durante o resto do tempo. O que por um lado até me faz pensar: havendo shows em dois dias seguidos, não se poderia fazer um show para um público mais jovem e o outro para os jovens de outrora? Escusavam as crianças de ouvir certos e determinados termos e expressões que eu ouvi aquando da presença de um certo John Cena cujo nome não vou aqui mencionar, e podia o pessoal mais veterano garantir um show para maiores de 16 com cânticos praticamente non-stop, ondas mexicanas e no geral muito mais entusiasmo nas bancadas. Enfim, para utopias já temos o Quinto Império e o meu casamento com a Eliza Dushku, mas o certo é que a percentagem de crianças num show acaba por ser inversamente proporcional à participação do público no mesmo.
Longe de mim considerar que os eventos da Raw foram um fracasso, embora tenha gostado mais dos da SmackDown, mas para mim a questão do público deve ser algo a rever. Mesmo fãs espanhóis que estiveram no Pavilhão Atlântico escreveram no respectivo site que o público português é muito apático, e isto custa-me um bocado, porque se ainda passados dois dias a minha voz não voltou ao normal, sei que devo ser uma das raras excepções. O Wrestling não é ópera, ainda que o título desta crónica seja uma homenagem ao brilhante filme dos Irmãos Marx e consequente álbum dos Queen, e a ideia não é assistir aos acontecimentos sossegado como se faz no sofá de casa. O Wrestling vive da interacção entre lutadores e público, e apesar do roster desfalcado que se deslocou a Lisboa saí do Pavilhão Atlântico com a nítida sensação que foi o público português a falhar, não os lutadores. A ideia deve ser contribuir para o espectáculo também nas bancadas, com apoios, insultos, cânticos, vaias e o que mais se quiser, mas nunca com silêncio. Ou então simplesmente há pessoas que deviam considerar trocar os pavilhões de Wrestling por salas de ópera.
No século XVII, o Padre António Vieira concebeu a ideia do Quinto Império, o Império Português, que marcaria o domínio tuga sobre o mundo. Também Fernando Pessoa teve este ideal bem presente na sua magnum opus “Mensagem”. Não podemos dizer que já se veja a alba deste Quinto Império, mas ao menos nos últimos tempos temos tido shows de Wrestling em terras lusas. Não será exactamente a mesma coisa que o domínio do mundo, mas já é um princípio.
Após um hiato de onze anos a WWE regressou a Portugal em Dezembro de 2006, com dois eventos da SmackDown, os quais naturalmente tiveram casa cheia no Pavilhão Atlântico, com os bilhetes a voarem mais depressa do que a roupa interior da Paris Hilton numa convenção de ninfomaníacas. Perante tamanho sucesso, a WWE decidiu que estava na hora de trazer até nós a sua brand principal, aquela que durante muitos e bons anos se misturava com a WWF/E em si. Em boa hora o fez, porém (e apesar do que o Bruno Nogueira nos tenta convencer) é bem sabido que perfeita só a Eliza Dushku, e esta visita da Raw a Portugal não foi excepção.
Os problemas começaram meses antes do avião com os lutadores aterrar no Aeroporto de Lisboa. Triple H, campeão da WWE por 10 vezes e de longe uns dos lutadores mais técnicos e carismáticos de sempre, contraiu uma lesão grave e ficou irremediavelmente afastado do privilégio de actuar em Portugal. Mais recentemente o seu parceiro nos D-X, o Heartbreak Kid Shawn Michaels, ressentiu-se de um acumular de lesões e foi também obrigado a parar. Na SmackDown, a segunda brand, foi a lenda Undertaker e a promessa Mr. Kennedy a seguirem o caminho da enfermaria, o que obrigou a WWE a transferir para lá o maior heel da actualidade, Edge, a fim de desempenhar as funções de campeão e principal representante da brand. Dando razão ao ditado brasileiro “vaso ruim não quebra”, um dos poucos main eventers da Raw a escapar a esta onda de lesões foi justamente o campeão John Cena, o qual se prepara para celebrar em Setembro de 2016 a bonita marca de 10 anos seguidos com o título.
Chegada a data dos eventos da Raw em Portugal a expectativa era muita, pese embora as três enormes ausências que se faziam sentir, mas o grande problema acabou por ser o público. É certo e sabido que uma das principais armas do Wrestling é conseguir ser apelativo para crianças de tenra idade, que mesmo não ligando ainda a coisas como futebol ou música (excepto Floribella) se deixam levar pela cor e movimento dos espectáculos de luta livre. Ora se isto em termos de vendas de merchandising é muito bom, tanto assim que nem sei se existem t-shirts do Cena em tamanho para adulto (quem no seu perfeito juízo as compraria?), há o contraponto da falta de participação dos espectadores. Não só as crianças pequenas ficam algo assustadas por todo o ambiente e limitam-se a assistir em silêncio, como também vêm inevitavelmente acompanhadas pelos pais, que em muitos dos casos não seguem nem apreciam Wrestling. Multiplicando isto por muitas crianças e muitos pais, temos que boa parte da assistência se limita a bater palmas esporadicamente, deixando-se estar num silêncio quase sepulcral durante o resto do tempo. O que por um lado até me faz pensar: havendo shows em dois dias seguidos, não se poderia fazer um show para um público mais jovem e o outro para os jovens de outrora? Escusavam as crianças de ouvir certos e determinados termos e expressões que eu ouvi aquando da presença de um certo John Cena cujo nome não vou aqui mencionar, e podia o pessoal mais veterano garantir um show para maiores de 16 com cânticos praticamente non-stop, ondas mexicanas e no geral muito mais entusiasmo nas bancadas. Enfim, para utopias já temos o Quinto Império e o meu casamento com a Eliza Dushku, mas o certo é que a percentagem de crianças num show acaba por ser inversamente proporcional à participação do público no mesmo.
Longe de mim considerar que os eventos da Raw foram um fracasso, embora tenha gostado mais dos da SmackDown, mas para mim a questão do público deve ser algo a rever. Mesmo fãs espanhóis que estiveram no Pavilhão Atlântico escreveram no respectivo site que o público português é muito apático, e isto custa-me um bocado, porque se ainda passados dois dias a minha voz não voltou ao normal, sei que devo ser uma das raras excepções. O Wrestling não é ópera, ainda que o título desta crónica seja uma homenagem ao brilhante filme dos Irmãos Marx e consequente álbum dos Queen, e a ideia não é assistir aos acontecimentos sossegado como se faz no sofá de casa. O Wrestling vive da interacção entre lutadores e público, e apesar do roster desfalcado que se deslocou a Lisboa saí do Pavilhão Atlântico com a nítida sensação que foi o público português a falhar, não os lutadores. A ideia deve ser contribuir para o espectáculo também nas bancadas, com apoios, insultos, cânticos, vaias e o que mais se quiser, mas nunca com silêncio. Ou então simplesmente há pessoas que deviam considerar trocar os pavilhões de Wrestling por salas de ópera.
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2 Comentários:
A cada dia que passa me convenço mais que o Royce é o maior.
Gostei desta crónica, é bom o PWP etar de volta.
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