Da boca do lobo vem hoje, finalmente, a crítica e relatório ao último PPV da WWE - pelo menos até amanhã - o No Mercy.
Depois de um período relativamente prolongado em que foi prejudicada pelas ausências de vedetas como Kurt Angle e Big Show, a Smackdown redimiu-se e desafia agora a imagem generalizada que possui de "irmã menos bonita" das divisões da WWE. Neste momento, a Smackdown consegue, regra geral, ter "feuds" mais interessantes do que a sua irmã, beneficiando não só da presença de Angle e Show, mas também da ausência... de Triple H.
Em qualquer caso, depois da desgraça do Great American Bash, era praticamente impossível descer mais baixo, e mesmo que o Summerslam já mostrasse alguns sinais de recuperação para a Smackdown (com um tremendo Kurt Angle vs. Eddie Guerrero), não convenceu muita gente (sobretudo devido ao fraco Undertaker vs. JBL). A Smackdown tinha que se provar com um PPV próprio, e não se encostando à Raw nos PPV's conjuntos. Será que conseguiu fazer isso com este No Mercy?
É bom dizer que sim, e não só: este No Mercy foi, na sua maior parte, bem mais interessante do que o PPV da Raw que o precedeu, o Unforgiven. Senão, vejamos o impacto que teve cada um dos combates do "card":
Eddie Guerrero vs. Luther Reigns
É um pouco estranho ver Eddie Guerrero, que ainda há poucas semanas era um pretendente ao título da WWE, renegado a "opener", já que normalmente o combate que abre um evento nunca é particularmente importante e serve apenas para abrir o apetite ao público. Este combate serviu para adensar o "feud" de Guerrero contra Kurt Angle, e para introduzir um novo capanga de Angle, o que já é suficiente para considerar esse grupo como um "stable". O novo elemento é ninguém mais senão "The Reflection of Perfection" Mark Jindrak, e este trio parece disposto a fazer a vida negra a Eddie Guerrero, entre outros. Para já, e após os embates entre Guerrero e Angle, este combate continua a marcar uma boa série de combates de Eddie Guerrero, apesar do ressentimento anímico que este sofreu após perder o título para JBL. Contra um surpreendente Luther Reigns, menos previsível do que antes, Guerrero teve que usar a sua máxima "mentir, enganar, roubar" para obter a vitória, usando um bastão roubado de um segurança para atingir Reigns antes de usar o seu "frog splash". Uma homenagem, talvez, ao recém-falecido Big Bossman, que utilizava o mesmo tipo de tácticas quando era "heel" (e não só). Um bom combate para iniciar a noite: nota 16/20.
Spike Dudley (c) vs. Nunzio, para o título de meios-pesados
Surpreendente foi também a presença de Nunzio na luta pelo título de meios-pesados; Mas há que admitir: mesmo com Johnny "The Bull" Stamboli no canto do italiano, será extremamente difícil derrotar Spike enquanto ele tiver os seus irmãos, os Dudley Boyz, no seu canto. O combate, entre os que são, provavelmente, os dois lutadores mais leves da WWE, teve momentos de grande interesse, com as tácticas pouco convencionais de Nunzio a resultarem bem contra Spike. Porém, tudo acabou como era previsível: Spike conseguiu um "pinfall" no que foi, praticamente, um "handicap match". Nota 14/20.
Billy Kidman vs. Paul London
Apesar do combate anterior ter sido interessante, este era o combate de meios-pesados que todos queriam ver. Após a separação dos ex-campeões de tag teams, devido às reticências de Kidman em realizar o "Shooting Star Press", as relações tinham amargado a passo rápido, culminando neste combate de alta velocidade, com muitos golpes aéreos. Há que ver que London é sem dúvida o mais carismático e tecnicamente apto dos dois, e isso dá à revolta de Kidman um cheirinho de inveja. Contudo, desta vez, Kidman conseguiu a vitória limpa por "pinfall", colmatada exactamente com um "Shooting Star Press". Apesar de reticente, ele parece estar a executar o golpe porque o público adora esse tipo de golpes voadores, e Kidman está a desresponsabilizar-se dos danos que possa causar, chamando ao público "sanguinário". Para aumentar o impacto do seu "heel turn", ele ainda foi ao ponto de efectuar um segundo "SSP" a um London já preso a uma maca. As coisas prometem aquecer na divisão de meios-pesados... e já não era sem tempo. Nota 17/20.
Kenzo Suzuki (c) + René Duprée (c) vs. Rob Van Dam + Rey Mysterio,
para o título de Tag Teams
Como já disse anteriormente, mais estranho do que ver uma equipa mal amanhada a vencer o título, era vê-la perdê-lo para outra equipa ainda mais mal amanhada. Felizmente, isso não aconteceu neste PPV, e a dupla de "heels" estrangeiros continua na sua onda de vitórias e a consolidar a sua reputação. Suzuki continua com as suas tentativas fúteis de conquistar a simpatia do público americano, desta vez com uma interpretação engraçadíssima de "Born in the USA". Hiroko, a "geisha" acompanhante de Suzuki, já é bi-nacional (com bandeirinhas francesas e japonesas no penteado), e Duprée está cada vez melhor nas suas prestações. Só isto já é suficiente para justificar a detenção dos cintos por parte desta dupla. Mas RVD e Rey deram espectáculo, como seria de esperar, e proporcionaram um bom combate de tag teams, com excelentes combinações acrobáticas. No fim, o "double team" foi essencial para que Suzuki conseguisse obter o "pin" sobre Rey, segurando as cordas. Nada de especial, mas com bom valor de entretenimento. Nota 15/20.
Kurt Angle vs. Big Show
Este era o meu combate da noite, e com boa razão para isso: era o encontro entre os dois lutadores cujo regresso ao activo redimiu a Smackdown do marasmo em que se encontrava. É claro, após a forma como ambos foram retirados do activo, o Show tinha bons motivos para estar furioso com Angle - e ainda mais, depois de este último, à traição, o ter atingido com um dardo tranquilizante e rapado o cabelo! O Big Show dominou a primeira parte do combate, e Angle chegou mesmo a desistir e a provocar o seu próprio "count-out". Mas Theodore Long não quis nada com isso, e forçou ambos a voltar para o ringue, determinando que aquele combate não poderia acabar dessa forma. A partir daí, o combate prosseguiu com o domínio do Show, até que Angle, finalmente, conseguiu derrubá-lo e dominar no tapete, a sua especialidade. Ainda assim, Angle não conseguiu obter a vitória, sendo forçado a recorrer à arma tranquilizante que tinha escondido debaixo do ringue. Mas o Show estava atento, desarmando Angle, e pouco depois, com um "chokeslam" enorme, colocando um fim ao combate. O Show é pachorrento, mas este combate teve um excelente valor psicológico - e as bestas têm que entrar em algum lado. Nota 17/20.
Booker T (c) vs. John Cena, 5º combate de uma série de 5 para o título dos EUA
Esta série de combates nunca me despertou muito a atenção, mas tinha aqui a oportunidade de a despertar, caso Booker tivesse mantido o título. Infelizmente, preferiram a via fácil e devolver o cinto ao lutador mais sobre-idolatrado e com o pior "finisher" da WWE. Tudo isto para lho tirar novamente na semana seguinte, mas esse é outro assunto. O combate foi quase uma cópia a papel químico dos anteriores combates ganhos por Cena: Eu bato, tu bates, eu bato, tu bates, tu tentas o "Scissors Kick", eu surpreendo e faço o "F-U" do nada, "game over". Se este combate teve uma virtude, é que libertou Booker para vôos mais altos e para um "face turn". Fora isso, nota 14/20.
Rico + Charlie Haas + Miss Jackie vs. Bubba Rey Dudley + D-Von Dudley + Dawn Marie
Este combate serviu para rematar uma mini-"feud" de Dawn Marie contra Miss Jackie, dado a primeira ser obcecada por Charlie Haas e estar furiosa acerca do anúncio de noivado destes dois. Serviu também para marcar o regresso de Rico, uma figura menos do que Kurt Angle e Big Show, mas que fazia falta à Smackdown para o alívio cómico. O combate teve as habituais peripécias de Rico, com os Dudleys como vítimas. Após muita confusão, Rico obteve a vitória com o "pinfall". Não devia ter sido este o primeiro combate da noite? Divertido, mas nada mais que isso. Nota 13/20.
John Bradshaw Layfield (c) vs. Undertaker, combate "Last Ride" para o título da WWE
Toda a gente esperava que fosse desta vez que o Undertaker levava de vencida JBL, mas para surpresa geral, não foi isso que aconteceu. Assistimos a um combate
muito melhor do que o do Summerslam entre estes dois mesmos lutadores. Undertaker dominou contra um enrascado JBL durante quase todo o combate, fora os poucos momentos em que este último conseguia momentaneamente virar a maré, mas sem conseguir neutralizar o "Dead Man". Após uma disputa invulgarmente violenta fora do ringue, o Undertaker realizou um poderoso "chokeslam" a partir de cima da mesa dos comentadores americanos, enfiando JBL na mesa dos comentadores mexicanos! Tudo parecia decidido com o Undertaker a levar JBL para o carro funerário, mas quando abre a porta, sai de lá Heidenreich, que ataca o Undertaker e ajuda JBL a neutralizá-lo e colocá-lo dentro do carro. Assim, JBL ganha o combate, mas as coisas não ficariam por aqui: no exterior, vemos que o condutor do carro funerário era ninguém outro senão Paul Heyman, que sai do veículo e faz sinal a Heidenreich, o qual, guiando um SUV, espatifa-o contra o lado do carro que continha o Undertaker. Será que é desta vez que Heyman consegue a sua vingança sobre o "Dead Man" que tinha escapado ao seu domínio? Não percam os próximos episódios, que nós também não! Apesar do factor "cheese" que parece dominar as "storylines" que envolvem o Undertaker, este combate foi razoável, violento q.b., e psicologicamente eficiente, contribuindo para dar um pouco mais de legitimidade ao já demasiadamente longo reinado de JBL como campeão da WWE. Nota 15/20.
Em suma, um PPV muito apelativo, apesar de não o parecer à partida. A Smackdown parece estar no caminho certo, e esperamos ver mais prestações como estas dos envolvidos neste evento. Nota global 16/20.