Da Boca do Lobo: Coisas de Mulheres
Vivemos numa era dourada, e não o sabemos. Senão, vejamos: a maior parte dos fãs de wrestling actuais queixa-se (e com alguma razão, absolutamente falando) da péssima qualidade associada à divisão feminina da WWE. Semana sim, semana não, somos presenteados com tristes espectáculos daquilo a que os responsáveis da promoção supostamente chamam “wrestling feminino”, mas que na realidade não passam de tristes brigas sem eira nem beira entre “divas” que, longe de merecerem esse nome, pertencem mais às páginas de uma qualquer Penthouse do que num ringue de wrestling. Escolhidas em autênticos concursos de beleza concebidos para apelar aos mais básicos instintos dos espectadores masculinos, elas são treinadas à pressão para, de forma precipitada, serem atiradas para dentro de um ringue, oferecendo ao público rico em testosterona desempenhos capazes de envergonhar os menos aptos dos seus colegas masculinas.
E apesar disso, e de tudo o que se possa dizer da WWE por colocar essas mulheres a lutar sem qualquer tipo de preparação, a verdade é só uma: a divisão feminina da WWE tem passado, nos últimos anos, por um dos seus períodos mais dourados. E tudo isto graças à influência inegável de uma das figuras mais relevantes de sempre no wrestling profissional do género feminino: falo exactamente de uma das únicas divas realmente dignas desse nome, a fabulosa Trish Stratus.
Pode-se dizer, sem grande margem para argumentos, que Trish Stratus tem sido, nos últimos anos, a alma da divisão feminina da WWE, impressionando-nos com a sua beleza estonteante e voluptuosa, a sua capacidade atlética impressionante, o seu carisma e “mic skills” inegáveis, e a sua surpreendente e óbvia capacidade para impressionar dentro do ringue. Trish não é apenas mais uma cara e corpo bonitos: é um verdadeiro fenómeno que captura a atenção e admiração do público em cada momento, mesmo quando desempenha o papel de heel. Ela é uma em muitos, muitos milhões, e a WWE é extremamente sortuda de ter conseguido converter uma atleta de fitness canadiana na melhor wrestler feminina da actualidade, e discutivelmente, de sempre.
Mas Trish Stratus não está sozinha nesta era dourada. Ao seu lado, estão duas outras senhoras que têm contribuido para que esta divisão não seja simplesmente um “one woman show”. Victoria e Mickie James são duas wrestlers de muito boa qualidade, e que em muito têm contribuído para subir o nível dos combates femininos na WWE. De Victoria pode-se, no mínimo, dizer que teve uma evolução pouco provável: de uma das “hoes” do Godfather, simplesmente mostrando os seus atributos na entrada deste wrestler, ela teve uma progressão fantástica, aprendendo na perfeição a arte do “círculo quadrado”, e tornando-se na “powerhouse” da divisão feminina. Abençoada com um “look” extremamente atraente, mas pouco convencional, pode-se dizer que só isso e uma relativa falta de “mic skills” a separou de um destino equiparável ao de Trish. Não obstante, é um elemento precioso na divisão feminina da WWE, e por definição, uma permanente candidata ao título.
Já o caso de Mickie James é diferente: bem conhecida no circuito independente, foi uma aquisição em cheio da WWE, complementando perfeitamente os estilos de Trish e Victoria. Apesar de não ter um aspecto tão escultural como a maior parte das suas colegas, é suficientemente atraente para ser um chamariz de público, e pode-se dizer que apela aos espectadores que apreciam um “look” mais atingível.
Porém, 3 lutadoras não fazem uma divisão. A WWE bem se esforça por nos convencer que Candice Michelle, Ashley Massaro e Torrie Wilson são lutadoras legítimas, mas essa ilusão cai por terra assim que qualquer uma delas entra no ringue para enfrentar Trish, Victoria ou Mickie. A Smackdown tem nas suas fileiras uma figura que poderia melhorar imensamente a divisão na forma de Melina. Esta diva tem o “look”, os “mic skills”, o carisma e a capacidade de luta que a WWE precisa, sendo capaz de parecer bem no ringue contra Trish Stratus, como tivemos oportunidade de ver no Survivor Series de 2005. Porém, é aparente que a WWE considera mais importante mantê-la junto de Joey Mercury e Johnny Nitro do que envolvê-la na divisão feminina. O que será mais importante? Quem sabe...
Bem mais perto, na Raw, uma figura destaca-se como extremamente mal aproveitada no contexto da divisão feminina da WWE: trata-se de Lita, aparentemente demasiado envolvida com Edge para oferecer os seus préstimos dentro do ringue. Lita já deu vezes sem conta provas dos seus préstimos dentro do ringue, se bem que tenha fama de ser bastante desleixada. Mas o que lhe falta em execução, sobra-lhe em intensidade e carisma, e não há dúvidas de que tem o "look" necessário para desempenhar o papel que seria desejável na luta pelo título feminino da WWE. Contudo, Vince McMahon entende que ela deve permanecer ao lado de Edge por agora - algo que tem sido, ao fim e ao cabo, essencial para a construção do "gimmick" do ex-senhor "Money in the Bank". Só isto já serve para mostrar a ordem (ou desordem) das prioridades na cabeça do dono da WWE.
Longe estamos dos distantes tempos em que as figuras femininas do wrestling não tinham nada de sexy, sendo mulheres incapazes de cativar pelo seu aspecto, meros clones dos elementos masculinos da indústria, com a diferença de terem um cromossoma X no lugar do Y. Há quem continue a defender que esse deve ser o principal critério de mérito na divisão feminina, mas tal como o wrestling masculino mudou imensamente nos 20 anos, também o wrestling feminino teve que evoluir no sentido de se tornar mais visualmente atraente para um público televisivo cada vez mais abrangente. Desde meados dos anos 80, isso foi conseguido através de figuras como Miss Elizabeth, Sherri Martel, Alundra Blayze, Sunny, Sable, e agora Trish Stratus, como figura central de um panteão que, sem dúvida, será integrado no “Hall of Fame” da WWE.
É sem dúvida problemático para a WWE desenterrar outra figura equiparável a Trish Stratus. Como disse antes, ela é uma em milhões, e há muito poucas mulheres bonitas dispostas a moer o seu corpo semana após semana para seguir uma carreira no pro-wrestling. Mas elas andam por aí – mulheres lindas, talentosas, carismáticas e atléticas. E talvez seja a presença de Trish Stratus na WWE a despoletar a faísca de vontade e inspiração necessária para iniciar uma carreira nesta indústria. Quanto mais não seja, se assim acontecer, poderemos ter a certeza de que já não serão necessários fiascos como as “diva searches” que, nos últimos anos, têm oferecido fracasso após fracasso do ponto de vista atlético. Dentro de 10 anos, ninguém se lembrará de Christy Hemme ou Ashley Massaro. Mas Trish Stratus, que nunca saltou por esse aro, está destinada a tornar-se uma lenda. E aposto convosco que não será daí que sairá a sucessora de Trish. Fiquemos atentos, porque do lugar menos provável, nascerá uma estrela.





0 Comentários:
Enviar um comentário